terça-feira, 31 de maio de 2011

Em defesa da política no trabalho

Não concordamos com os que acreditam haver separação entre o ser humano (ator político) e aquele que exerce sua atividade laboral. Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos, também combateu essa ideia quando simbolizou que para além de “apertar  parafusos”, o homem e a mulher são, antes de tudo, seres humanos, agentes políticos e atores pensantes.
 
Dado o vertiginoso crescimento da divisão internacional do trabalho, a humanidade insiste em fragmentar e especializar o ser humano em todos os outros campos de sua vida.  Isso ocorre, tanto em relação à separação de suas funções físicas, quanto intelectuais e sociais.
 
Quando nossos filhos desligam a tv com o dedo do pé, num instante somos levados a dizer: “cuidado, que assim vai quebrar!”. Em verdade, essa ideia baseia-se na premissa de que o dedo do pé não possui essa função específica (não serve para isso). Esquecemos que nossos dedos são comandados por um único cérebro racional, pertencentes a um mesmo corpo, e que podem ser usados para esses mesmos fins.
 
Mas é no trabalho que a visão fragmentária do homem tem maior apelo. Há especialistas muito bem pagos que dizem: “não se deve ter relações afetivas no trabalho”, como se, no horário de expediente, os sentimentos e desejos humanos pudessem ser apagados ou escondidos. Da mesma forma, há outros que afirmam: “trabalho não é locus de política”, como se pudéssemos esvaziar  o ser humano de uma de suas maiores virtudes racionais - a de agir politicamente.
 
É por essa e outras condicionantes e restrições, fruto de análises segmentadas, que o trabalho vem se tornando cada vez mais alienante e o homem e a mulher, alienados. De forma que para escaparmos dessa situação precisamos integrar o ser humano a todas as suas dimensões físicas, intelectuais e sociais, a partir de uma visão totalizante. E isso independe de estarmos no ambiente natural de trabalho, fora dele ou mesmo em casa (daí, hoje, o Home-Office ser um tema tão atual).

Romper com a fragmentação é condição necessária para tornar o labor essencialmente humano, além de estimular a criatividade, motivação e iniciativa dos trabalhadores. No serviço público isso ganha maior relevo, afinal tais valores estão por demais esquecidos pelos que administram e gerenciam órgãos e setores vinculados aos recursos humanos.