Em recente coluna publicada na Folha de São Paulo em 03/05, sob o título “Consequência, não causa”, Henrique Meirelles abordou o porquê das taxas de juros no Brasil serem tão altas.
Depreende-se do articulista que a percepção dos agentes financeiros sobre o quadro econômico e político, como inflação, mudanças governamentais, compromissos com a austeridade e metas apontam o cenário de calibragem das mesmas.
Se o governo segurar despesas públicas, fizer sucessivos superávits ou perseguir metas inflacionárias de forma consistente, as taxas de juros cairão naturalmente dentro dos ciclos monetários. Então, conclui: taxas de juros são consequências, não causas.
Meirelles esquece, mas
a percepção de agentes econômicos não é, de modo nenhum, neutra. Negaríamos todas
as pesquisas e prêmios que relacionam expectativas e vieses interpretativos na economia.
Agentes econômicos lucram,
exatamente, com incertezas. E com a profusão de indicadores que circulam no
mercado brasileiro (inflação de serviços, de alimentos, de preços administrados;
taxas de câmbio, diária ou projetada em 30, 60, 90 ou 360 dias; nível de emprego
e produção, em suas centenas de variantes e setores) por que diminuir a taxa de
risco se os próprios especuladores perderão com isso? Afinal, não haverá algum índice
específico, um pouco pior, para basear-se?
Outra questão é a
velocidade. Diante do quadro de incertezas (criadas, reforçadas ou especuladas),
lucra-se mais, baixando os riscos, de forma lenta, segura e gradual. Por que os
agentes financeiros baixariam taxas de juros em ritmo de fórmula 1, se podem fazê-lo
caminhando, onde se lucra mais, por um longo período, com menor esforço? Ora, amigos,
não existem cordeiros na Bovespa, nem em Wall Street.
A calibragem nas taxas,
cujas consequências oneram o Tesouro Nacional com despesas de juros, aprofundam
as mazelas sociais ou desenvolvem o país. Ela deseduca, se reduz recursos com educação.
Mata, se comprime despesas com saúde. Será causa das desigualdades sociais, se disputa
espaço orçamentário com setores essenciais e estratégicos da nação.
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